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terça-feira, 10 de junho de 2008

ESPECIAL : Amazônia ainda busca modelo sustentável de desenvolvimento - BBC BRASIL

ESPECIAL AMAZÔNIA

BBC BRASIL
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/05/080515_amazonia_modelo_ep_pu.shtml


A Colômbia afirma que sua porção de floresta é uma das mais protegidas. O plantio de coca e as fumigações do governo destroem a floresta, mas o conflito afugenta os grandes negócios de impacto.


Para proteger sua floresta, os países sul-americanos têm adotado estratégias diversas. A Guiana, por exemplo, é a favor de entregar a gestão da selva para estrangeiros - idéia polêmica no Brasil.



Hoje, estima-se que a Amazônia absorva cerca de 10% das emissões globais de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis em carros e fábricas.




No Brasil, a pecuária é acusada de empurrar a fronteira agrícola do país para dentro de mata virgem. Atrás dela, viriam as plantações de soja, e teme-se que o mesmo ocorra com o etanol.



Entre os principais problemas está a extração ilegal de madeira. Este é apenas o primeiro passo de um ciclo que pode envolver atividades econômicas que vão da pecuária à agricultura mecanizada.


A bacia do Amazonas acolhe mais de 30 milhões de pessoas, das quais mais da metade vive em centros urbanos.


Tão importante quanto a biodiversidade das espécies é a riqueza humana da floresta. Em países como o Equador, os indígenas construíram força política e hoje lutam pela preservação da selva



Um único arbusto da Amazônia brasileira pode ter mais espécies de formigas que as Ilhas Britânicas, e um só hectare, mais de 480 espécies de árvores.


A Amazônia tem o maior reservatório biológico da Terra - cerca de 30% das espécies terrestres de todo o mundo.


Dentro do Brasil estão 65% da selva. Mas Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa também se orgulham da floresta, e a usam como atrativo turístico.



Para os brasileiros, a Amazônia é sinônimo de riqueza nacional. Mas a maior floresta tropical do mundo se espalha por oito nações e um território. Uma descoberta mesmo para quem crê conhecê-la.




1.Amazônia ainda busca modelo sustentável de desenvolvimento
Edson Porto

Amazônia ainda busca modelo sustentável de desenvolvimento
É difícil encontrar na Amazônia quem defenda um modelo predatório de ocupação e desenvolvimento. De caboclos a fazendeiros, passando por multinacionais e políticos, o apoio à preservação e à idéia de desenvolvimento sustentável permeia quase todos os discursos.
Mas a região vive um grande descompasso entre discurso e ação. O desmatamento voltou a crescer nos últimos 12 meses, há conflitos fundiários sérios, muita violência e problemas ecológicos, sociais e econômicos com o crescimento dos agronegócios ou da exploração predatória da selva.
"A Amazônia precisa de um novo modelo de desenvolvimento", acredita Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil. "Acho que ainda existe uma discussão falsa, em que se contrapõem desenvolvimento e preservação. A visão de que a floresta é uma barreira ao desenvolvimento é antiga, dos anos 70, e é falsa."
No entanto, a busca por um novo modelo de desenvolvimento ainda é embrionário e a maior parte do crescimento econômico da região amazônica (que é maior do que média nacional) continua baseado na expansão de atividades tradicionais, como a exploração de madeira, a mineração, a criação extensiva de gado e a agricultura.
"A grande questão é como fazer a floresta valer mais em pé do que cortada", resume Virgílio Viana, coordenador do Fundo Amazônia Sustentável (FAS), uma ONG criada para gerenciar o Bolsa Floresta, um programa de transferência de renda a famílias e comunidades que protegem a mata em áreas de preservação.
Idéias
Segundo especialistas, existe um ciclo bem estabelecido de exploração econômica na Amazônia. O primeiro passo em geral é a exploração da madeira.
A segunda fase depende da capacidade do produtor. No caso de agricultores de menor porte, essa fase é a de exploração do solo para o plantio. Quando esse solo se esgota, em geral por causa da falta do uso de tecnologia agrícola, entra o gado.
Há locais em que o gado pode ser substituído pela agricultura industrializada, como tem acontecido em áreas de soja no Pará, onde fazendeiros de maior porte e com mais capital limpam as pastagens para transformá-las em plantações mecanizadas.
Para romper esse ciclo vicioso, há muitas propostas na região, a maioria ainda no nascedouro. Um exemplo é o Bolsa Floresta. O programa criado pelo governo do Amazonas prevê o pagamento de R$ 50 como compensação para famílias que vivem em áreas de reservas estaduais e não desmatem. O plano também prevê ajuda às comunidades na criação de alternativas de renda e infra-estrutura social.
O plano, porém, é recente e esbarra na falta de documentação da população local. "Um dos problemas é que a pessoa precisa ter CPF para se inscrever, e o plano está andando devagar já que muita gente não tem", diz o governador do Estado, Eduardo Braga.
Na opinião de Everaldo de Souza Martins Filho, secretário de Planejamento de Santarém, no Pará, é preciso encontrar um equilíbrio entre fortalecer a agricultura familiar e explorar de forma sustentável as áreas que já estão alteradas.
Desmatamento começa na pecuária e pode envolver outras atividades
"Apenas no município de Santarém temos um enorme área que já foi mexida, mas que não é explorada. Podemos aumentar muito a nossa produção agrícola sem cortar mais nada", ele diz.
Representantes do Sindicato dos Produtores Rurais da cidade defendem a mesma coisa. Eles afirmam que o município de 2,5 milhões de hectares tem cerca de 600 mil já sem floresta (alguns estimam que esse número seja menor, cerca de 400 mil hectares).
"Dessa área, só usamos para plantação e gado 200 mil hectares", afirma João Clóvis Duarte, vice-presidente do Sindicato. O restante está abandonado.
Segundo Adario, do Greenpeace, o problema é que usar e recuperar áreas abertas que já foram exauridas pela agricultura intensiva pode ser até 6,5 vezes mais caro do que abrir novas áreas.
Barreiras
A lista de receitas e idéias sobre o que pode ser feito na região é longa. ONGs e governos locais defendem desde a exploração sustentável da madeira até o desenvolvimento de produtos de alto valor agregado a partir de plantas e árvores amazônicas. No entanto, além do aumento das áreas de preservação e do desenvolvimento de alguns projetos pontuais, vê-se pouca mudança.
A incipiência das alternativas econômicas tem várias explicações. Na visão do ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência, Roberto Mangabeira Unger, existem três problemas básicos que impedem a criação de uma nova dinâmica econômica na região.
"A primeira é a questão da propriedade da terra, já que falta a definição de quem são os proprietários. A segunda é a falta de um zoneamento ecológico e econômico da Amazônia. E a terceira é ausência de um regime regulatório e fiscal que garanta que a floresta em pé valha mais do que a floresta cortada", diz Unger.
Leia também na BBC Brasil: 'Na Amazônia está em jogo o futuro do Brasil, diz Mangabeira'
Como coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS), um projeto para desenvolver a região de forma equilibrada, ele diz que está buscando soluções no curto prazo para resolver esses problemas e poder implementar projetos que ajudem a região a se desenvolver.
O desafio poderá ser maior do que o ministro está antecipando. Em Santarém há agricultores com terras de mil hectares que estão esperando há 15 anos pela regularização de suas propriedades. Na Amazônia, os projetos e as políticas de mudança têm sempre sido muito mais lentos do que as motosserras.


2. Clima colocou Amazônia na agenda global
James PainterAnalista de América Latina da BBC


Estudos colocam Amazônia como área mais vulnerável depois do Ártico
Com o aumento da preocupação mundial com o aquecimento global e com o futuro do planeta, cresceu também atenção internacional sobre a Amazônia.
Há três razões fundamentais que explicam por que a região é importante para o resto do mundo.
Primeiro: a floresta exerce um papel fundamental no ciclo de carbono que influi na formação do clima mundial.
Cerca de 200 bilhões de toneladas de carbono são absorvidas por vegetação tropical em todo o mundo, dos quais cerca de 70 bilhões apenas pelas árvores amazônicas.
Hoje, estima-se que a Amazônia absorva cerca de 10% das emissões globais de CO2 provenientes da queima de combustíveis fósseis em carros e fábricas, por exemplo.
Aquecimento global
Amazônia dá ao Brasil título de país com maior biodiversidade do mundo
Por outro lado, as altas taxas de desmatamentos fazem com que mais carbono se converta em dióxido de carbono, seja no momento em que as árvores são queimadas para 'limpar' áreas de floresta, seja mais lentamente através da decomposição de madeira não-queimada.
Estima-se que cerca de 20% das emissões globais de gases que causam o efeito estufa provêm da derrubada de florestas tropicais em todo o mundo.
E, segundo o IPPC – Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU – o aquecimento global está ligado diretamente à concentração de CO2 na atmosfera.
De acordo com o relatório Stern sobre a economia da mudança climática encomendado pelo governo britânico e divulgado em 2006, a perda de bosques naturais contribui mais que o setor de transporte para as emissões.
O mesmo documento alertou que, sozinha, a destruição de mata tropical pode lançar nos próximos quatro anos mais carbono na atmosfera que todos os vôos do inicio da aviação até 2025.
O desmatamento – e não a queima de combustíveis fósseis – explica por que o Brasil figura entre os cinco maiores emissores de gases que causam o efeito estufa.
Ponto de inflexão
A segunda razão é o potencial da região amazônica para agir como o que os cientistas denominam 'ponto de inflexão' para o clima global neste ano.
Um estudo divulgado em fevereiro deste ano por uma equipe de cientistas da Universidade de Oxford, do Instituto Potsdam e de outros centros de pesquisa concluiu que a floresta amazônica é a segunda área do planeta mais vulnerável à mudança climática depois do Oceano Ártico.
A idéia central é que a seca da Amazônia e/ou o aumento no desmatamento poderiam gerar um ciclo vicioso: a grande redução na área de floresta amazônica geraria um aumento significativo nas emissões de CO2, que por sua vez elevariam as temperaturas globais, que assim causariam a seca da Amazônia.
Cientistas e especialistas que trabalham em modelos de clima discordam em relação a quando este ponto de inflexão poderia ocorrer, até em relação à possibilidade de que ocorra.
O britânico Centro Hadley vê como "muito provável" que a Amazônia seja duramente afetada pela mudança climática nas próximas décadas.
Outras estimativas levando em conta todos os modelos recentes sugerem uma probabilidade de 10% a 40%.
Por baixa que seja a probabilidade, entretanto, as mudanças na Amazônia devem ter "alto impacto" no clima mundial.
Biodiversidade
Finalmente, a Amazônia é importante pela sua biodiversidade.
É a maior porção de floresta tropical, com o maior reservatório biológico da Terra – cerca de 30% das espécies terrestres de todo o mundo.
A região dá ao Brasil o título de país com maior biodiversidade do mundo, com mais de 50 mil espécies catalogadas de plantas, 1,7 mil espécies de aves e entre 500 e 700 tipos – por categorias – de anfíbios, mamíferos e répteis.
Tão grande é sua biodiversidade que um único arbusto na Amazônia pode contar mais espécies de formigas que todas as Ilhas Britânicas, enquanto um só hectare de floresta pode ter mais de 480 espécies de árvores.
Toda esta rica biodiversidade está ameaçada pela combinação destrutiva de desmatamento com mudança climática.
Mesmo com tantos pontos de interrogação sobre o futuro da Amazônia e seu efeito no clima mundial, cientistas concordam que, por causa de sua diversidade genética e o papel crucial da região na definição do clima do planeta, é urgente encontrar a melhor combinação política para conservar suficiente da floresta.

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